Fabio Lima Fabio Lima

Packaging e Comunicação de Produto: Desafios e Oportunidades

As empresas do sector agro-alimentar devem assumir um compromisso de responsabilidade para com os seus clientes/ consumidores, oferecendo produtos em que a segurança alimentar está assegurada e fornecendo mais informações no rótulo desde que sejam corretas e não enganosas. Comunicação eficaz traz reforço da confiança!

As empresas do sector agro-alimentar devem assumir um compromisso de responsabilidade para com os seus clientes/ consumidores, oferecendo produtos em que a segurança alimentar está assegurada e fornecendo mais informações no rótulo desde que sejam corretas e não enganosas. No entanto, é cada vez mais claro que não basta garantir elevados níveis de segurança alimentar e de detalhe de produto, se esta não for complementada com uma política de comunicação adequada, transmitindo de forma assertiva informações pertinentes, e assim manter ou mesmo reconquistar a confiança dos clientes e/ou consumidores.

Comunicação eficaz traz reforço da confiança!

A rotulagem deve garantir informações essenciais e precisas que permitam a escolha do consumidor com conhecimento de causa e nesse sentido o Regulamento (UE) n.º 1169/2011 do Parlamento Europeu e do Conselho de 25 de Outubro de 2011, relativo à prestação de informação aos consumidores sobre os géneros alimentícios veio tornar isso possível.

 

Rotularem dos Alimentos e Regras

Obrigatoriamente os rótulos passaram a ter algumas regras, entre as quais se destacam:

- Indicar o valor energético e a quantidade de lípidos, ácidos gordos saturados, hidratos de carbono, açúcares, proteínas e sal. (Esta medida apenas será obrigatória a partir de Dezembro de 2016, exceto se for fornecida a título voluntário pelos fabricantes antes dessa data.) Note-se que as regras relativas à declaração nutricional não se aplicam aos produtos artesanais, para os quais é prevista uma derrogação. 

Toda a informação relevante em matéria nutricional deve constar no mesmo campo visual, num formato tabular, de modo a ser facilmente identificada pelos consumidores.

- Conter a denominação ou nome do género alimentício e a quantidade líquida do género alimentício (peso liquido). As informações têm que estar expressas por 100g ou por 100ml, podendo adicionalmente ser referidas por porção.

- As substâncias que provocam alergias, os chamados alergénios, têm que constar na lista de ingredientes, de modo a que os consumidores as identifiquem com facilidade. Devem estar destacadas na lista de ingredientes (por exemplo a bold, sublinhado ou itálico). Note-se que esta informação sobre as substâncias alergénicas terá também de ser fornecida em relação a alimentos não embalados, como os que são vendidos em restaurantes ou refeitórios 

- Indicação das datas de durabilidade mínima, datas-limites de consumo, data de congelação, ou data da primeira congelação, consoante o produto em questão. 

- Indicação do país de origem é obrigatória para a carne fresca de suínos, caprinos, ovinos e aves.

- Conter a informação sobre a fonte específica de óleos vegetais, gorduras, usados em produtos, como, por exemplo, o óleo de palma.

- A informação obrigatória a ser fornecida na embalagem deve garantir um tamanho mínimo de letra de 1,2mm. No caso de embalagens ou recipientes cuja superfície maior seja inferior a 80 cm2, o tamanho dos caracteres deve ser de pelo menos 0,9mm. 

Com exceção da data de validade, todas estas regras têm que estar disponibilizadas nas vendas à distância, como as compras online, antes da conclusão da compra.

 

Desafios e Oportunidades

Acima de tudo, é necessário educar o consumidor para uma correcta interpretação dos rótulos e, consequentemente fazer uma escolha saudável. Destacar que os valores nutricionais estão ordenados de forma decrescente, ou seja, o primeiro da lista é sempre aquele com maior peso no alimento e assim sucessivamente. Saber isto ajuda a fazer uma rápida avaliação do rótulo, porque o primeiro “ingrediente” pode revelar, de imediato, de que tipo de produto alimentar se trata, ou seja, se é saudável ou não.

No entanto, este regulamento, apresenta algumas oportunidades de melhoria, que deveriam ser tidas em conta numa próxima revisão, sobretudo no que se refere à informação nutricional.

Deveria ser criada uma harmonização em toda a União Europeia, por exemplo, recorrendo a um sistema de cores do tipo “semáforos”, como aliás já existe no Reino Unido onde, a Agência de Controlo de Alimentos propôs o uso do Semáforo Nutricional como meio de facilitar o uso das informações nutricionais pelos consumidores. A ideia é incluir na parte frontal das embalagens um semáforo com as indicações: verde para nutrientes em baixas quantidades, amarelo para aqueles que estão em quantidades medianas e vermelho para os que aparecem em quantidades altas.

Outra lacuna do regulamento é relativamente às bebidas alcoólicas que continuam isentas da indicação de uma lista de ingredientes, quando esta informação é já obrigatória nos restantes alimentos embalados. O vinho inclui aditivos que o consumidor desconhece, mas a lei só exige a indicação de sulfitos (expressos pelo símbolo SO2), quando presentes em concentrações acima de 10 mg/l, pelo seu potencial alergénico. Não obriga a revelar a presença de outros ingredientes, como o ácido sórbico.

Por fim, e a mais preocupante, é a adição voluntária da expressão “Pode conter”, isto é, no caso da possível presença não intencional de substâncias ou produtos que causem alergias ou intolerâncias, a menção a utilizar é “Pode conter” e deve surgir a seguir à lista de ingredientes. Em casos de exceção pode‐se usar “Pode conter vestígios de”, mas é de adição voluntária! E, ainda neste campo dos alergénios, os comerciantes/ restauração ainda têm um longo caminho a percorrer. O que regra geral encontramos na restauração é um flyer informativo que apela o cliente que se for portador de alguma intolerância, deve questionar o colaborador para assim fazer uma escolha em segurança para a sua saúde. Mas será que, na maioria dos restaurantes, o colaborador sabe responder?! De forma a ser mais claro, deveria ser obrigatório que essa informação estivesse disponibilizada para o consumidor sem o mesmo ter que estar a questionar o colaborador.

É essencial a comunicação de produto desde o packaging à comunicação no ponto de venda, passando pela publicidade, dinamização de passatempos e gestão de redes sociais.

A comunicação eficaz de um produto é uma vantagem competitiva que pode ajudar a conquistar o público-alvo com suas mensagens de marketing. Seja o produto um bem de consumo, durável ou de vestuário, uma estratégia de comunicação do produto é parte integrante de um bom plano de marketing. A melhor estratégia aumenta a possibilidade de que a sua mensagem chegue ao público-alvo e aumente as vendas.

Uma empresa que lança um novo produto, deve divulgá-lo junto dos órgãos de comunicação social, através, por exemplo, de sessões de lançamento, demonstrações e press-releases. Regra geral, os produtos alimentares mais saudáveis ou com menos malefícios para o consumidor, não tem uma embalagem atrativa e, pouco ou nada são comunicadas. Nas grandes superfícies, vemos promotoras a publicitarem geralmente produtos mais “gulosos” do que propriamente produtos saudáveis. Seria uma boa maneira do consumidor que não conhece o produto ou, aquele consumidor mais reticente ficar a conhecer o produto, os seus benefícios e retirar todas as dúvidas que eventualmente possa ter.

Ainda relativamente à embalagem atractiva, a psicologia das cores possui aqui um papel chave! As empresas devem entender o significado das cores e como podem usar uma determinada cor para alavancar as vendas, seja num e-commerce, seja no comércio físico. A psicologia das cores influencia diretamente as decisões das pessoas, indicando algumas pesquisas que 93% dos consumidores avaliam os aspectos visuais do produto.

Além de estimular determinados comportamentos, as cores frequentemente costumam definir e atrair diferentes tipos de consumidores:

Daí ser importante algumas marcas apostarem na reformulação das suas embalagens de forma a atrair os consumidores. Obviamente que aliada a essa atractividade, é importante não esquecer o esclarecimento do produto ao consumidor, ou seja, ter uma rotulagem clean mas com todas as informações úteis e necessárias para uma escolha saudável.

 

Estratégia de Comunicação

Existem quatro regras essências que deverão ser respeitadas:

1) Definir o público-alvo: decidir qual o mercado-alvo para a comunicação de produto, tendo em atenção diferentes segmentos de clientes (potencial, novos, antigos), de forma a direcionar as mensagens de comunicação e ofertas promocionais diferentes para cada segmento. Para os clientes novos, devem ser usadas comunicações que assegurem que os mesmos fiquem satisfeitos com suas primeiras compras e incentive-os a comprar novamente através de cupões de desconto e ofertas. 

2) Comunicações eficazes: usar uma comunicação eficaz que prepare o comprador. Nas comunicações para o grande público, devem ser incluídas as informações de conhecimento, detalhes específicos do produto e as razões pelas quais seus produtos são melhores que os do concorrente. 

3) Mistura de comunicações: usar vários métodos para se comunicar com os clientes. Usar e-mail, anúncios em revistas, cartões postais, outdoors, mostruário de lojas, embalagem de produtos, e outros métodos de publicidade que atinjam o público-alvo. 

4) Mensagens: desenvolver as mensagens do produto em torno de um tema coeso. Usar a mesma mensagem incrementa a marca do produto, reforça seu tema e aumenta o conhecimento do produto. O objetivo da mensagem do produto deve ser criar uma resposta emocional a ele e impulsionar os clientes a comprar o seu produto.

 

Consumidor Exigente

Mas também para os consumidores, que estão cada vez mais exigente na altura de comprar, existem algumas dicas:

  1. O consumo de alimentos com elevados níveis de gorduras, sódio e açúcares (sacarose, maltose, lactose, glucose, frutose, dextrose, xarope de açúcar invertido...) deve ser moderado.
  2. Evitar alimentos com grandes quantidades de lípidos, optando sempre pelos produtos com baixo teor em gorduras, sobretudo as saturadas e o colesterol.
  3. Ter atenção aos glícidos, ou seja, a escolha deve recair sempre sobre os alimentos ricos em amido e pobres em açúcares.
  4. Aquando da escolha de alimentos com alto teor de hidratos de carbono, certifique-se que exista entre 6 a 10 gramas de fibra e proteína por cada 100 gramas de produto.
  5. Aquando da escolha de alimentos com alto teor de hidratos de carbono, certificar-se que a incidência de gorduras é inferior a 10 gramas por cada 100 gramas de produto.
  6. Optar sempre por alimentos com gorduras monoinsaturadas e polinsaturadas, em detrimento das gorduras saturadas (nomeadamente a hidrogenada ou trans) pois estas contribuem para o aumento do colesterol LDL e podem favorecer o aparecimento de doenças cardiovasculares
  7. Conferir produtos parecidos e escolher a versão que apresente menos teor de açúcar e sal.
  8. Quanto mais reduzida for a lista de ingredientes de um produto, mais saudável é o alimento, uma vez que não terá aditivos, conservantes ou outros ingredientes normalmente utilizados em produtos processados.
  9. Quando for às compras, utilize estes descodificadores:

 

Bibliografia

- Regulamento (UE) n.º 1169/2011 de 25 de Outubro de 2011

- Decreto-Lei nº 199/2008 de 8 de Outubro

- Diversa documentação da Federação Portuguesa das Indústrias Agro-Alimentares (FIPA), Associação Portuguesa de Nutricionistas (APN), Deco Proteste, Direcção Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV), Direcção-Geral de Saúde (DGS)

 

Sofia Lúcio (Eng.ª, Mst., PGrd.)

Mestre em Gestão da Qualidade e Segurança Alimentar (ESTM), Pós-Graduada em Sistemas Integrados de Gestão: Qualidade, Ambiente, Energia e Segurança (SGS), Licenciada em Engenharia da Segurança do Trabalho (ISLA Santarém), Licenciada em Segurança e Higiene no Trabalho (ISLA Santarém); Auditora Interna de Sistemas Integrados de Gestão: Qualidade, Ambiente, Energia e Segurança; Técnica Superior de Segurança no Trabalho; Formadora na área da Higiene e Segurança no Trabalho; Membro da Ordem dos Engenheiros Técnicos.

Read More