Packaging e Comunicação de Produto: Desafios e Oportunidades
As empresas do sector agro-alimentar devem assumir um compromisso de responsabilidade para com os seus clientes/ consumidores, oferecendo produtos em que a segurança alimentar está assegurada e fornecendo mais informações no rótulo desde que sejam corretas e não enganosas. Comunicação eficaz traz reforço da confiança!
As empresas do sector agro-alimentar devem assumir um compromisso de responsabilidade para com os seus clientes/ consumidores, oferecendo produtos em que a segurança alimentar está assegurada e fornecendo mais informações no rótulo desde que sejam corretas e não enganosas. No entanto, é cada vez mais claro que não basta garantir elevados níveis de segurança alimentar e de detalhe de produto, se esta não for complementada com uma política de comunicação adequada, transmitindo de forma assertiva informações pertinentes, e assim manter ou mesmo reconquistar a confiança dos clientes e/ou consumidores.
“Comunicação eficaz traz reforço da confiança!”
A rotulagem deve garantir informações essenciais e precisas que permitam a escolha do consumidor com conhecimento de causa e nesse sentido o Regulamento (UE) n.º 1169/2011 do Parlamento Europeu e do Conselho de 25 de Outubro de 2011, relativo à prestação de informação aos consumidores sobre os géneros alimentícios veio tornar isso possível.
Rotularem dos Alimentos e Regras
Obrigatoriamente os rótulos passaram a ter algumas regras, entre as quais se destacam:
- Indicar o valor energético e a quantidade de lípidos, ácidos gordos saturados, hidratos de carbono, açúcares, proteínas e sal. (Esta medida apenas será obrigatória a partir de Dezembro de 2016, exceto se for fornecida a título voluntário pelos fabricantes antes dessa data.) Note-se que as regras relativas à declaração nutricional não se aplicam aos produtos artesanais, para os quais é prevista uma derrogação.
Toda a informação relevante em matéria nutricional deve constar no mesmo campo visual, num formato tabular, de modo a ser facilmente identificada pelos consumidores.
- Conter a denominação ou nome do género alimentício e a quantidade líquida do género alimentício (peso liquido). As informações têm que estar expressas por 100g ou por 100ml, podendo adicionalmente ser referidas por porção.
- As substâncias que provocam alergias, os chamados alergénios, têm que constar na lista de ingredientes, de modo a que os consumidores as identifiquem com facilidade. Devem estar destacadas na lista de ingredientes (por exemplo a bold, sublinhado ou itálico). Note-se que esta informação sobre as substâncias alergénicas terá também de ser fornecida em relação a alimentos não embalados, como os que são vendidos em restaurantes ou refeitórios
- Indicação das datas de durabilidade mínima, datas-limites de consumo, data de congelação, ou data da primeira congelação, consoante o produto em questão.
- Indicação do país de origem é obrigatória para a carne fresca de suínos, caprinos, ovinos e aves.
- Conter a informação sobre a fonte específica de óleos vegetais, gorduras, usados em produtos, como, por exemplo, o óleo de palma.
- A informação obrigatória a ser fornecida na embalagem deve garantir um tamanho mínimo de letra de 1,2mm. No caso de embalagens ou recipientes cuja superfície maior seja inferior a 80 cm2, o tamanho dos caracteres deve ser de pelo menos 0,9mm.
“Com exceção da data de validade, todas estas regras têm que estar disponibilizadas nas vendas à distância, como as compras online, antes da conclusão da compra. ”
Desafios e Oportunidades
Acima de tudo, é necessário educar o consumidor para uma correcta interpretação dos rótulos e, consequentemente fazer uma escolha saudável. Destacar que os valores nutricionais estão ordenados de forma decrescente, ou seja, o primeiro da lista é sempre aquele com maior peso no alimento e assim sucessivamente. Saber isto ajuda a fazer uma rápida avaliação do rótulo, porque o primeiro “ingrediente” pode revelar, de imediato, de que tipo de produto alimentar se trata, ou seja, se é saudável ou não.
No entanto, este regulamento, apresenta algumas oportunidades de melhoria, que deveriam ser tidas em conta numa próxima revisão, sobretudo no que se refere à informação nutricional.
“Deveria ser criada uma harmonização em toda a União Europeia, por exemplo, recorrendo a um sistema de cores do tipo “semáforos”, como aliás já existe no Reino Unido onde, a Agência de Controlo de Alimentos propôs o uso do Semáforo Nutricional como meio de facilitar o uso das informações nutricionais pelos consumidores. A ideia é incluir na parte frontal das embalagens um semáforo com as indicações: verde para nutrientes em baixas quantidades, amarelo para aqueles que estão em quantidades medianas e vermelho para os que aparecem em quantidades altas. ”
Outra lacuna do regulamento é relativamente às bebidas alcoólicas que continuam isentas da indicação de uma lista de ingredientes, quando esta informação é já obrigatória nos restantes alimentos embalados. O vinho inclui aditivos que o consumidor desconhece, mas a lei só exige a indicação de sulfitos (expressos pelo símbolo SO2), quando presentes em concentrações acima de 10 mg/l, pelo seu potencial alergénico. Não obriga a revelar a presença de outros ingredientes, como o ácido sórbico.
Por fim, e a mais preocupante, é a adição voluntária da expressão “Pode conter”, isto é, no caso da possível presença não intencional de substâncias ou produtos que causem alergias ou intolerâncias, a menção a utilizar é “Pode conter” e deve surgir a seguir à lista de ingredientes. Em casos de exceção pode‐se usar “Pode conter vestígios de”, mas é de adição voluntária! E, ainda neste campo dos alergénios, os comerciantes/ restauração ainda têm um longo caminho a percorrer. O que regra geral encontramos na restauração é um flyer informativo que apela o cliente que se for portador de alguma intolerância, deve questionar o colaborador para assim fazer uma escolha em segurança para a sua saúde. Mas será que, na maioria dos restaurantes, o colaborador sabe responder?! De forma a ser mais claro, deveria ser obrigatório que essa informação estivesse disponibilizada para o consumidor sem o mesmo ter que estar a questionar o colaborador.
“É essencial a comunicação de produto desde o packaging à comunicação no ponto de venda, passando pela publicidade, dinamização de passatempos e gestão de redes sociais.”
A comunicação eficaz de um produto é uma vantagem competitiva que pode ajudar a conquistar o público-alvo com suas mensagens de marketing. Seja o produto um bem de consumo, durável ou de vestuário, uma estratégia de comunicação do produto é parte integrante de um bom plano de marketing. A melhor estratégia aumenta a possibilidade de que a sua mensagem chegue ao público-alvo e aumente as vendas.
Uma empresa que lança um novo produto, deve divulgá-lo junto dos órgãos de comunicação social, através, por exemplo, de sessões de lançamento, demonstrações e press-releases. Regra geral, os produtos alimentares mais saudáveis ou com menos malefícios para o consumidor, não tem uma embalagem atrativa e, pouco ou nada são comunicadas. Nas grandes superfícies, vemos promotoras a publicitarem geralmente produtos mais “gulosos” do que propriamente produtos saudáveis. Seria uma boa maneira do consumidor que não conhece o produto ou, aquele consumidor mais reticente ficar a conhecer o produto, os seus benefícios e retirar todas as dúvidas que eventualmente possa ter.
“Ainda relativamente à embalagem atractiva, a psicologia das cores possui aqui um papel chave! As empresas devem entender o significado das cores e como podem usar uma determinada cor para alavancar as vendas, seja num e-commerce, seja no comércio físico. A psicologia das cores influencia diretamente as decisões das pessoas, indicando algumas pesquisas que 93% dos consumidores avaliam os aspectos visuais do produto.”
Além de estimular determinados comportamentos, as cores frequentemente costumam definir e atrair diferentes tipos de consumidores:
“Daí ser importante algumas marcas apostarem na reformulação das suas embalagens de forma a atrair os consumidores. Obviamente que aliada a essa atractividade, é importante não esquecer o esclarecimento do produto ao consumidor, ou seja, ter uma rotulagem clean mas com todas as informações úteis e necessárias para uma escolha saudável.”
Estratégia de Comunicação
Existem quatro regras essências que deverão ser respeitadas:
1) Definir o público-alvo: decidir qual o mercado-alvo para a comunicação de produto, tendo em atenção diferentes segmentos de clientes (potencial, novos, antigos), de forma a direcionar as mensagens de comunicação e ofertas promocionais diferentes para cada segmento. Para os clientes novos, devem ser usadas comunicações que assegurem que os mesmos fiquem satisfeitos com suas primeiras compras e incentive-os a comprar novamente através de cupões de desconto e ofertas.
2) Comunicações eficazes: usar uma comunicação eficaz que prepare o comprador. Nas comunicações para o grande público, devem ser incluídas as informações de conhecimento, detalhes específicos do produto e as razões pelas quais seus produtos são melhores que os do concorrente.
3) Mistura de comunicações: usar vários métodos para se comunicar com os clientes. Usar e-mail, anúncios em revistas, cartões postais, outdoors, mostruário de lojas, embalagem de produtos, e outros métodos de publicidade que atinjam o público-alvo.
4) Mensagens: desenvolver as mensagens do produto em torno de um tema coeso. Usar a mesma mensagem incrementa a marca do produto, reforça seu tema e aumenta o conhecimento do produto. O objetivo da mensagem do produto deve ser criar uma resposta emocional a ele e impulsionar os clientes a comprar o seu produto.
Consumidor Exigente
Mas também para os consumidores, que estão cada vez mais exigente na altura de comprar, existem algumas dicas:
- O consumo de alimentos com elevados níveis de gorduras, sódio e açúcares (sacarose, maltose, lactose, glucose, frutose, dextrose, xarope de açúcar invertido...) deve ser moderado.
- Evitar alimentos com grandes quantidades de lípidos, optando sempre pelos produtos com baixo teor em gorduras, sobretudo as saturadas e o colesterol.
- Ter atenção aos glícidos, ou seja, a escolha deve recair sempre sobre os alimentos ricos em amido e pobres em açúcares.
- Aquando da escolha de alimentos com alto teor de hidratos de carbono, certifique-se que exista entre 6 a 10 gramas de fibra e proteína por cada 100 gramas de produto.
- Aquando da escolha de alimentos com alto teor de hidratos de carbono, certificar-se que a incidência de gorduras é inferior a 10 gramas por cada 100 gramas de produto.
- Optar sempre por alimentos com gorduras monoinsaturadas e polinsaturadas, em detrimento das gorduras saturadas (nomeadamente a hidrogenada ou trans) pois estas contribuem para o aumento do colesterol LDL e podem favorecer o aparecimento de doenças cardiovasculares
- Conferir produtos parecidos e escolher a versão que apresente menos teor de açúcar e sal.
- Quanto mais reduzida for a lista de ingredientes de um produto, mais saudável é o alimento, uma vez que não terá aditivos, conservantes ou outros ingredientes normalmente utilizados em produtos processados.
- Quando for às compras, utilize estes descodificadores:
Bibliografia
- Regulamento (UE) n.º 1169/2011 de 25 de Outubro de 2011
- Decreto-Lei nº 199/2008 de 8 de Outubro
- Diversa documentação da Federação Portuguesa das Indústrias Agro-Alimentares (FIPA), Associação Portuguesa de Nutricionistas (APN), Deco Proteste, Direcção Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV), Direcção-Geral de Saúde (DGS)
Sofia Lúcio (Eng.ª, Mst., PGrd.)
Mestre em Gestão da Qualidade e Segurança Alimentar (ESTM), Pós-Graduada em Sistemas Integrados de Gestão: Qualidade, Ambiente, Energia e Segurança (SGS), Licenciada em Engenharia da Segurança do Trabalho (ISLA Santarém), Licenciada em Segurança e Higiene no Trabalho (ISLA Santarém); Auditora Interna de Sistemas Integrados de Gestão: Qualidade, Ambiente, Energia e Segurança; Técnica Superior de Segurança no Trabalho; Formadora na área da Higiene e Segurança no Trabalho; Membro da Ordem dos Engenheiros Técnicos.